Quando o álcool vira um problema? Talvez o caso do Brad Pitt possa ajudar muitos homens

Recente entrevista do ator fala sobre abuso de bebidas e o tema faz olhar com mais atenção e cuidado para si mesmo

A substância psicoativa mais utilizada no mundo é o álcool, e o seu uso é iniciado, na maioria das vezes, durante a adolescência.

Segundo uma pesquisa citada pelo IBGE , mais de 55% dos jovens que estavam no 9º ano do Ensino Fundamental já haviam experimentado bebida alcoólica alguma vez.

Link da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 

É importante ter dados como esses em mente quando esse tipo de conversa surge. Se na adolescência os números de experimentação são tão altos, a atenção dedicada ao assunto deve ser tratada com urgência.

Isso porque os comportamentos adquiridos nessa fase tendem a se perpetuar nos anos seguintes, provocando doenças crônicas e e consequências para a qualidade de vida. Sem o cuidado necessário, números como os dessa pesquisa podem se converter em taxas de alcoolismo e outras doenças graves para os futuros adultos.  

E por falar nesses futuros adultos, semana passada a internet entrou em polvorosa com as falas de Brad Pitt para a revista GQ Style.  Traduzida pelo El País Brasil, a entrevista do ator, acompanhada de um poderoso ensaio fotográfico, foi muito além do retorno midiático de uma celebridade que estava sumida e havia passado recentemente por uma separação: ela levantou aspectos do alcoolismo que podem ser ligados intimamente ao mundo masculino, incluindo a relação com a família e dificuldades de comunicação.

“Não me lembro de nenhum dia, desde que saí da faculdade, em que não tenha bebido alguma coisa”

Já comentamos aqui no PdH sobre o quanto construímos uma cultura que engrandece o consumo de álcool e o torna motivo de comemoração e orgulho. Para os homens, há uma busca por projetar uma imagem socialmente mais poderosa, afugentar sua vulnerabilidade e buscar sua interioridade.

Como citou Guilherme Valadares em seu texto sobre sobre o estudante que morreu após beber trinta doses de vodca, a formação alcóolica é, ainda que se negue, um dos tijolos da identidade masculina, e essa obsessão começa cedo.

"O primeiro gole é um momento quase ritual entre adolescentes. Talvez venha do próprio pai, que vai dar risada da careta do filho inexperiente. O filho não precisa receber instruções, ele apenas observa que beber é coisa importante para os adultos." 

A partir do momento em que uma figura como Brad Pitt torna público seu problema, abre margem para que diversos outros homens se enxerguem nas falas e consigam agir em buscar de uma cura, pensando neles próprios, em pessoas próximas ou no exemplo querem dar à geração que está chegando agora. 

Mas quando passa a ser um problema?

Deixar de realizar coisas rotineiras, demorar cada vez mais para sentir os efeitos do álcool e perceber que está constantemente fazendo promessas sobre parar de beber. Esses são alguns indicadores do alcoolismo, segundo Drauzio Varella.

Para ele, as coisas começam a ficar perigosas no momento em que o consumo vira compulsão, ou seja, quando surgem doenças graves e problemas que atrapalham a vida familiar, profissional e social da pessoa. 

"Quando formei minha família, parei com tudo, exceto o álcool. Inclusive neste último ano bebia demais. [O álcool] havia se transformado num problema."

"O alcoolismo começa no falso modo em que encaramos a ideia de felicidade. É na mudança dessa visão cheia de miragens que a superação do problema começa de verdade." Fred Mattos

Casos como os do ator compõem uma importante necessidade de conversar sobre os efeitos do álcool na vida de uma pessoa, em suas diferentes fases de vida. Lembrar de dados como os apresentados no início do artigo, acompanhar de perto jovens que estão constantemente expostos à bebidas e enxergar em sí próprio quais os pontos de atenção referentes ao assunto, merecem ser pontos a se colocar em evidência.

Falar (e ouvir) pode ser doloroso, mas é importante para avançar e construir experiências de vida menos tóxicas. Vamos começar?

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publicado em 08 de Maio de 2017, 17:30
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