O que o Facebook e o Google estão fazendo para enfrentar a fábrica de fake news

Enquanto as notícias falsas não param de aumentar, Google e Facebook engatilham seus contra-ataques

“Um problema fácil de definir, mas difícil de resolver”.

É assim que o consultor de otimização em pesquisa fundador da Audience Wide, Matthew Brown, define a fake news, essa tirana onda de informações falsas que corre entre cabos de rede e dados de telefonia móvel.

Elas existem, sabemos que são perigosas, mas é algo fora de controle. As fake news desafiam as plataformas de compartilhamento mais populares do mundo, como Google e Facebook. Tanto que, quase um ano depois de lançarem ofensivas contra as informações mentirosas, as notícias falsas seguem se promovendo desavisadamente especialmente em momentos delicados como vésperas das eleições.

A afirmação acima do publicitário Bruno Tozzini tem embasamento. Até o Papa Francisco entrou na luta contra informações inverídicas, tendo o preconceito religioso como base.

Mas porque serviços como Facebook e Google não conseguem evitar a disseminação desses links suspeitos? A resposta curta? Devido a automatização.

As redes sociais tendem a entregar conteúdo relacionado à preferência do usuário. Um cálculo do tipo INTERESSE + AMIZADES = CONTEÚDO. O material entregue no seu feed é relacionado ao que você consome e com quem você mais se conecta nas plataformas paralelas, como Instagram e Whatsapp.

Assim, os algoritmos prezam pela popularidade do artigo para o usuário, sem verificar a relevância e veracidade. Um problema ainda maior quando o conceito de verdade é questionado e a demanda por informações é alta.

É aí que surgem os personagens tendenciosos. Graças a polarização política, qualquer fonte de notícia vira um ponto de discórdia. Ativadores maliciosos utilizam-se do conhecimento em SEO para ilustrar mitos de interesse de um indivíduo ou grupo político.

O mais recente caso ocorreu nos Estados Unidos, durante o atentado que deixou dezenas de mortos e feriu centenas de pessoas durante um festival de música country. Os participantes do tópico “politicamente correto”, do 4Chan, instigaram os usuários a criarem a ideia de que o atirador era comunista. Durante toda a noite do atentado, usuários discutiram como criar engajamento para divulgar essa informação.

Este tópico ficou durante horas no “Top Stories” do Google, que admitiu a falha e apontou o grande número de links confiáveis na página para o sistema apontá-lo como relevante. Ou seja, se você tem citações ou referências suficientes para algo, "algoritmicamente", isso parecerá muito importante para o Google, aumentando seu compartilhamento.

Muita gente se aproveitou do atentado em Las Vegas para espalhar fake news que reforçavam seu ponto de vista.

O Facebook anunciou recentemente a contratação de mil pessoas mundo afora para auxiliar na verificação das notícias falsas publicadas em sua plataforma. O anúncio veio pouco depois das investigações sobre uma agência russa que adquiriu mídia destinada à eleitores dos Estados Unidos para influenciar na eleição americana.

Também está em fase de testes um botão que apresenta informações sobre a página responsável pelo compartilhamento. No vídeo abaixo, Andrew Anker, Diretor de Produto e Notícias do Facebook, explica que ao clicar no botão “i”, o leitor recebe dados com origem da fonte e histórico de menções positivas na rede. Uma mapa de calor ainda ilustra onde o link foi mais compartilhado e quem são os seus amigos que interagiram com o post.

Já o Google, em abril deste ano, apostou todas as fichas na parceria com o PolitiFacts e o Snopes, importantes agências de fact-checking. Ao buscar a veracidade de algo como “Dilma foi terrorista?”, o Google entrega no topo da página links verificados por essas agências, dando a entender que a informação é verdadeira, falsa ou parcialmente real.

Apesar de bem intencionada, a ferramenta não motivou o Google a alterar os algoritmo. Ou seja: ao mesmo tempo que a ferramenta demonstra o que é real ou falso, o motor de busca segue propagando páginas e blogs com informações irreais, dando preferência ao conteúdo melhor ranqueado.

Em julho, o Google reorganizou a rotina de trabalho da equipe de verificação humana das notícias, com o foco de filtrar melhor os sites que aparecem na primeira página e eliminar material ofensivo e enganoso. Paralelamente, a Universidade de Santa Clara trabalha no desenvolvimento de uma tag que vai servir de marcador de credibilidade das notícias. O projeto está sendo gerenciado por Sally Lehrman, diretora do premiado Trust Project.

No Brasil, a Lei Federal isenta o Facebook, Google e redes sociais similares pelo conteúdo produzido pelos usuários. Circunstância que estão forçando ainda mais os agregadores de conteúdo a terem maior participação na informação que eles consideram relevante a leitor.

Para agravar a situação, o presidente Michel Temer sancionou neste mês a tão aguardada reforma política. As principais mudanças são a criação de um fundo público de cerca de dois bilhões de reais para financiar as campanhas eleitorais, uma cláusula de barreira que pretende diminuir o número de partidos presentes na Câmara e o fim das coligações proporcionais, a partir de 2020.

Ao mesmo tempo, nas redes sociais, uma quase despercebida mudança promete fazer muito barulho em 2018: fica permitido o impulsionamento de conteúdo, ou seja, o pagamento para que postagens tenham maior visualização. Até as eleições passadas, essa mídia patrocinada era proibida durante o período eleitoral.

Resta-nos aguardar as regras do Tribunal Superior Eleitoral para o investimento em mídia paga nas redes sociais. Algo necessário, assim com há pra TV, rádio e material impresso. Até lá, contamos com o esforço do Facebook e do Google no enfrentamento às fake news.

Mas ainda existe uma coisa que seria útil a todos na tentativa de evitar o compartilhamento de qualquer notícia falsa: bom senso. Na falta disso, dá uma olhada nessas dicas:

Leituras Complementares


publicado em 12 de Outubro de 2017, 00:05
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Redação PdH

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