O dia dos namorados e os caçadores do presente esquecido

Dizem que homens não sabem dar presente, esse aqui certamente não sabe

Assim como a maioria das pessoas, as resoluções que Renato fazia em todo Réveillon giravam em torno de emagrecer, trabalhar menos e tudo aquilo que a gente promete sabendo que não vai cumprir. Mas havia uma promessa que apenas Renato fazia:

– Esse ano, eu não vou deixar para comprar os presentes da Júlia na última hora.

Ele fazia essa promessa todo ano, desde que eram namorados, e nunca conseguia cumpri-la. Veja bem: Renato não esquecia as datas comemorativas. Ele apenas não conseguia se programar para comprar os presentes com o mínimo de antecedência – sempre acontecia algo que deixava a corrida para o shopping para a última hora possível.

Um bom exemplo disso aconteceu foi no último Dia dos Namorados.

Saiu de casa cedo planejando comprar o presente com calma na hora do almoço. Talvez para você isso já seja “em cima da hora”, mas para Renato comprar o presente com uma antecedência de oito horas já mostrava um bom planejamento. Afinal, estamos falando de uma pessoa que, mais de uma vez, precisou implorar com o segurança para poder entrar em uma loja que havia acabado de baixar as portas.

Mas o universo parece ter alguma birra com pessoas que fazem planos. Na metade da manhã, foi chamado para uma reunião daquelas que não parece ter propósito nem final. Resultado? Quando voltou para sua mesa já passava das cinco horas e ainda precisava fazer um relatório. Estava pensando em mandar uma mensagem para Júlia avisando que iria chegar mais tarde em casa, até que percebeu alguma coisa errada. Ele não iria para casa naquele dia. Eles iriam jantar fora, por que...

Deu um tapa na testa e disse um palavrão. Desligou o computador e saiu correndo de sua sala, avisando que terminaria o relatório no dia seguinte sem falta.

Quarenta e três minutos depois, Renato estava no shopping se perguntando quantos por cento da população mundial estavam lá dentro junto com ele. Eram pessoas sozinhas, casais andando de mãos dadas, famílias que resolviam parar para conversar na frente da escada rolante, seguranças e vendedores andando apressados para lá e para cá. Tentando se desvencilhar da multidão e sem ideia nenhuma sobre o que comprar de presente, Renato acabou parando em frente a uma loja de sapatos.

Olhava a vitrine e pensava se valia a pena entrar na loja quando ouviu um grito. Era uma criatura demoníaca que havia assumido a forma de uma menininha de quatro anos. Segurava uma casquinha, suas mãos e seu rosto estavam lambuzados de sorvete. Corria na direção de Renato e seu olhar ensandecido mostrava que seus planos consistiam em limpar nas calças dele.

Em pânico, Renato percebeu que tinha duas maneiras de escapar: ou entrava na loja ou se atirava em cima de um velhinho que passava ao seu lado no corredor. Assim, seu instinto de sobrevivência decidiu que um par de sapatos seria um bom presente e pulou para dentro da loja, sendo imediatamente abordado por uma vendedora.

– Boa noite. Posso ajudá-lo?

– Estou procurando um presente para minha esposa.

– Certo. E o senhor tem algo em mente?

– Não.

– Temos scarpin, sapato de boneca, stiletto, oxford, meia pata...

Renato olhou ao redor em busca de uma ideia. Não imaginava que existiam tantos tipos de sapatos assim no mundo. Para ele, as divisões consistiam entre sapato, tênis e chinelo.

– Temos também sandálias, a vendedora continuou. Rasteirinhas, slippers, mocassins, sneakers, botas...

Botas! Ele sabia o que era uma bota!

– Talvez uma bota...

– Temos ankle boots, galocha...

– Galocha?

– Isso.

Na cabeça de Renato, galocha era coisa de usar na chuva, mas ele achou melhor não comentar. Na verdade, já estava arrependido de ter entrado ali, pois nunca imaginou que o mundo dos sapatos femininos era tão complexo.

Não, sua solução não estava ali. Disse à vendedora que iria olhar as prateleiras enquanto pensava um pouco e se afastou dela. Na primeira oportunidade que teve, escapou da loja e voltou ao corredor.

Subiu numa escada rolante no meio de uma família de oito pessoas concluindo que tentar comprar roupas também seria perda de tempo. Pela sua lógica, se um negócio que se usava apenas nos pés a coisa já era complicada, algo que cobrisse uma parte ainda maior do corpo seria praticamente impossível, já que ele teria que escolher entre modelos com nomes complicados, tecidos que ele não conhecia e cores que ele nem sabia que existiam na natureza.

Estava quase enlouquecendo com um casal de namorados que andavam abraçadinhos no meio do corredor sem deixar ninguém passar por eles quando viu uma loja de bolsas.

Bolsa. Bolsa deve ser fácil.

– Posso ajudá-lo?

– Eu estou procurando um presente para minha esposa.

– E o que o senhor tem mente?

“Nada. É por isso que estou aqui”, pensou Renato. Mas foi sincero e tentou ganhar tempo:

– O que você sugere?

– Ela prefere bolsas mais clássicas ou mais modernas?

– Olha, eu pensei em uma daquelas que dá para levar no ombro.

A vendedora sorriu, amaldiçoando em silêncio o Dia dos Namorados.

– Ela gosta de bolsas grandes?

Renato tentou imaginar as bolsas de Júlia. Tudo o que conseguiu lembrar foi das inúmeras vezes em que a mulher pedia para ele pegar algo dentro da bolsa (sempre falando que “está naquele bolsinho”), e que sempre terminavam com ele levando a bolsa até ela dizendo que “não consigo encontrar nada aqui dentro”. Talvez uma bolsa menor fosse mais recomendável. Ao menos para ele.

– Não. Acho que não.

– Nós temos bolsas pequenas. Que cor ela gosta?

– Cor?

– Isso. Ela gosta de nude?

Nude? Nude era uma cor? Até onde ele sabia, ouvindo os estagiários conversando na empresa, nude era foto de gente pelada.

Começou a perceber que também não teria sucesso ali. Sim, havia se saído melhor com bolsas que com sapatos. Com sapatos, não passou nem do modelo. Com bolsas, porém, havia chegado até a cor. Mesmo assim, teve a sensação que estava perdendo um tempo que não tinha. Assim, sorriu e disse que “olha, eu vou dar uma pensada e qualquer coisa eu volto” – frase que, em qualquer situação significa que a pessoa vai realmente pensar a respeito, mas que quando é dita para um vendedor, significa apenas “Olha, esquece. Adeus”.

Saiu da loja e se enfiou no meio da multidão novamente, tentando andar apressado. Tinha que resolver aquilo em meia hora, no máximo. Enquanto andava no meio das pessoas, viu de relance um objeto que chamou sua atenção e virou a cabeça.

Era o presente ideal. Bonito e com design arrojado. Estava exposto na vitrine com destaque, em cima de uma mesa com luzes futuristas. Júlia iria adorar, porque qualquer pessoa adoraria ganhar aquilo. Sim, era caro, mas era um senhor presente. Além disso, uma etiqueta dizia que era possível parcelar no cartão.

Estava quase entrando na loja quando voltou a si. Imaginou-se entrando em casa com aquela caixa enorme embaixo do braço e tentando explicar que “Jú, não é apenas um videogame, mas um videogame que vem com o jogo do Batman, você vai adorar, senta aqui que eu te mostro como passa da primeira fase” e percebeu que suas chances de dormir na sala bem no Dia dos Namorados seriam bem grandes. Mas, por outro lado, o videogame ficaria na sala, então, talvez valesse a p...

Não. Não daria certo.

Balançou a cabeça tentando recuperar o foco e voltou a andar pelo shopping, trombando nas pessoas, pedindo licença, se desculpando, empurrando, em busca de algo que pudesse agradar Júlia. Aliás, não apenas agradá-la. Queria surpreendê-la, queria arrancar aquele sorriso que fez com que ele se apaixonasse por ela na primeira vez que a viu.

Viu uma perfumaria e pensou em olhar a vitrine, mas, ao se aproximar da loja, uma promotora de vendas espirrou algo na cara dele gritando “já experimentou a nossa nova fragrância?”, fazendo com que ele tivesse uma crise de espirros no meio da multidão.

Quando finalmente terminou de espirrar estava na frente de uma joalheria. Anéis, brincos, colares e pulseiras brilhavam na vitrine e ele chegou a pensar que essa talvez fosse uma saída... Até bater o olho na etiqueta de preços. Eram tantos zeros que Renato teve vontade de entrar na loja e perguntar se aquele bracelete vinha com o jogo do Batman junto, porque só isso explicaria aquele valor.

Olhou no relógio. Era hora de ir embora. Tinha combinado de se encontrar com Júlia no restaurante e seria melhor chegar sem presente que deixá-la esperando. Pagou o estacionamento, entrou no carro e foi embora, xingando a reunião que tirou seu foco, a multidão de pessoas que o atrapalhou, as lojas que não tinham nada que fosse a cara da esposa.

Não estava desapontado por não ter comprado nada. Era diferente. Estava desapontado porque iria decepcioná-la. Estava decepcionado porque tinha falhado naquilo que mais importava em sua vida: fazer sua esposa feliz.

Enquanto dirigia, decidiu que não inventaria uma explicação. Pediria desculpas por não ter conseguido comprar o presente a tempo e, como sempre, juraria que, da próxima vez, iria se organizar melhor. Júlia iria entender – ela sempre entendia. Mas ele não. Mesmo sempre comprando os presentes na última hora, nunca havia deixado uma data especial passar em branco. Mas, desta vez, sua sorte tinha acabado. Desta vez, tinha fracassado. E não iria se perdoar por isso tão cedo.

No meio do caminho, parou num sinal e olhou para o lado. No banco do passageiro viu um caderno que estava ali esquecido há dias. Pegou o caderno e abriu o porta-luvas em busca de uma caneta. Queria apenas escrever o que estava sentindo, para não esquecer daquilo na próxima vez que precisasse comprar um presente.

Depois de um jantar repleto de pedidos de desculpas de Renato, Júlia voltou para casa segurando o choro. Mas não porque brigaram ou algo parecido, mas sim por ela ter encontrado as quatro frases que Renato havia escrito apressadamente no caderno, que ficaram esquecidas sobre o banco do carro. Não era um presente, nem um bilhete.

Era uma declaração.

Nem sempre eu consigo fazer aquilo que planejo. Mas, graças a você, eu nunca desisti. Obrigado por fazer com que eu continue tentando ser uma pessoa melhor. Obrigado por fazer com que eu queira ser a pessoa que você merece.

Talvez seu marido nunca conseguisse ser uma pessoa organizada, mas ele sempre a amaria. E, no meio das lágrimas, se lembrou de todos os presentes que havia ganhado dele – e de todos que ainda ganharia.

Júlia sabia que a única coisa mais gostosa que ganhar um presente era ganhar um presente que viesse embrulhado em amor. E aquelas quatro frases mostravam a ela que os presentes de Renato teriam muito valor em sua vida.

Pois eles jamais seriam objetos escolhidos ao acaso – mesmo que comprados de última hora.

Seriam declarações de amor ou de paixão ou de saudade.

Voltaram para casa e não foram para a cama como marido e mulher, mas como namorados, como um Dia dos Namorados pede. Mas deitaram tarde, pois Júlia teve que esperar Renato abrir seu presente. Era um embrulho enorme que estava no meio da sala e guardava um videogame. E não era um videogame qualquer, mas aquele que vinha com o jogo do Batman.

Porque Renato podia se esquecer de comprar os presentes, mas Júlia nunca se esqueceu de nenhum.

No dia seguinte, ele saiu mais cedo do trabalho. E, antes de ir para casa jogar videogame, passou no shopping e comprou o presente de aniversário de Júlia.

Era só em outubro, mas ele não queria arriscar.

Mecenas: The Body Shop®

Esse vai ser o primeiro Dia dos Namorados com The Body Shop® no Brasil. Você vai ter a chance de dar um presente inédito.

Até daria pra deixar para a última hora, porque lá você encontra fragrâncias e texturas que ela vai adorar passar na pele.

Mas sempre é melhor escolher com calma. Principalmente se você não é tão hábil com as palavras quanto o Renato.

Melhor não dar chance pro azar.

Utilize todo o seu conhecimento sobre a pessoa que você ama e compre um presente que vai agradar de verdade. A The Body Shop® te ajuda nessa missão.


publicado em 03 de Junho de 2015, 11:02
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Rob Gordon

Rob Gordon é publicitário por formação, jornalista por vocação e escritor por teimosia. Criador dos blogs Championship Vinyl e Championship Chronicles.


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